Às vezes encontro-me sem me procurar e vejo-me a tentar descobrir o sentido da vida e das coisas. Há pouco tive um desses encontros e subitamente sou presenteado com mais uma composição ímpar de um homem da geografia dos mapas e de uma natureza humana de que há poucos, a que lhe foi distribuido o dom de bem escrever e de nos provocar e valorizar com aquilo que escreve.
Honro-me de um dia os caminhos se terem cruzado e de ter uma boa e pura amizade com esse geógrafo da escrita e da vida, meu amigo e conterrâneo Eduardo Duarte.
Permito-me partilhar:
VIDA ESCRITA
A vida vivida não se escreve
Nos resumos leves de um diário,
Pois não é uma sucessão breve
De notas nas linhas de um sumário.
A vida é teia que o tempo tece
Nas ruínas velhas de uma casa.
É fruto fugaz que amadurece,
É um ferro frio malhando em brasa.
A vida é pureza verdadeira
Engolida às gotas num só trago,
Às vezes sabendo a um fel vago
De ressaca antes da bebedeira.
Autor: Eduardo Nunes Duarte