Sexta-feira, 3 de Julho de 2009
Ontem ocorreu o insólito. Terá sido mesmo algo do género de um tsunami, bomba atómica ou catástrofe inigualável em pleno Parlamento. Sim, foi isso: um ministro fê-lo. Fê-lo sem dó nem piedade. Ergueu os dois dedos indicadores espetados e colocou-os em paralelo e na linha dos olhos, mas no ‘andar superior’. Foi a hecatombe! Não há dúvida.
De facto tal ocorrência é sobremaneira inaceitável, em especial por ser a ‘Casa da Democracia’. Aquele mesmo espaço onde ninguém chama palhaço a ninguém, onde ninguém calunia, vaia, ou ofende o adversário das ideias e da ideologia. Onde ninguém descompõe o seu semelhante.
Convenhamos!
Em Março último, o senhor deputado José Eduardo Martins (PPD/PSD) mandou um outro deputado (PS) para um sítio menos próprio, em especial para não adeptos de orientações sexuais dentro do mesmo género. O que lhe aconteceu? Simplesmente, nada. Porquê? Porque não se conseguiu perceber bem as palavras proferidas. Certo. O senhor Presidente do Governo Regional da Madeira, permanente e reiteradamente usa vocábulos e calúnias que descompõe até o garante do sistema político – sua excelência o Presidente da República. Abstenho-me de adjectivar, pois não consegui encontrar um vocábulo à altura e adequado para a situação e para a pessoa em causa. O sistemático tom jocoso e trocista dos líderes partidários Paulo Rangel (PPD/PSD), Francisco Louçã (BE), Paulo Portas (CDS-PP) e Bernardino Soares (PCP) parecem também perder o grau ou dimensão de insulto.
De facto, um gesto vale por mil palavras e talvez um parzinho de palitos sejam das maiores ofensas, em especial para um solteiro. Outro gesto seria muito mais adequado, penso.
Perante a situação ocorrida e o contexto, é inevitável uma questão: a oposição goza de algum estatuto que lhe permita desrespeitar ou estar impune quando o faz? A questão do respeito é imputável e exigida apenas a quem está na posição (no poder)?
Não estaremos a desviar a atenção do essencial e a criar um bode expiatório?
Creio que é absolutamente necessária a tal hecatombe, o tal tsunami ou bomba atómica naquele hemiciclo e que, de preferência, os leve todos. Precisamos mesmo de novos políticos.
Quinta-feira, 2 de Julho de 2009
Está confirmado. Lamentavelmente. Hoje tomei a triste consciência que afinal o parlamento nacional é uma efectiva sala de espectáculos. Não nos podemos referir ao espaço como um circo, apesar das muitas situações, comportamentos e criaturas circenses, dado o layout existente, pois o artista não está no centro da sala, mas sim encostado a uma parede, portanto numa espécie de palco.
Aconteceu o insólito, o deplorável, o ofensivo, o intolerável e o adjectivado com toda a maior verborreia proferida pelos demais representantes das instituições, partidos e facções, a qual já tinha sido epilogada pelo supra sumo dos vencedores das últimas autárquicas, aquando do seu último discurso à assembleia.
Assisti, em directo, ao debate e consequentemente à ocorrência que legitimou a demissão do senhor professor doutor Manuel Pinho. Confesso que, do ponto de vista político nunca apreciei muito a postura do governante, porém não podemos descurar a elevada competência pessoal, profissional e académica, aliás, reconhecida internacionalmente.
O ‘gesto fatal’ determinou a ‘morte do artista’, do qual essa poderosa classe os media – ao serviço do fundamentalista opositor, orquestrada pelo hino do 'Contra' e ritmados pelo ‘bota-a-baixo’ – apenas relatou as gafes, as previsões falhadas e os insucessos.
Bastou meia hora, apenas 30 minutos, após a demissão pedida e aceite para que a Agência Lusa abrandasse o ritmo e expurgasse a adjectivação passando a considerar o ocorrido na Assembleia como «o gesto inconveniente», situação que despoletou uma série de press release entendendo o Prof. Pinho como um competente ministro com um excelente trabalho desenvolvido.
Daqui resulta apenas uma nua e crua conclusão: Queres ser bom? Morre ou vai embora!