Terça-feira, 14 de Dezembro de 2004

Paulo Zig & Pedro Zag, uma união, de facto!

Os altos e baixos, os ditos e não ditos, os avanços e recuos, as decisões e as contra-decisões, as afirmações e as desautorizações de uma ‘União de Facto’, que alguém ousou chamar de ‘Cüligação’.


1. Os Zig e os Zag. Entre uns que ‘zigam’ e outros que ‘zagam’ e outros ainda que ziguezagueiam, vamos nós assistindo ao trânsito desgovernado de quem reiterada, aleatória e discuidadamente mal nos governa. Avanços e recuos, convicções e indecisões que mais parece um dança artística ou um qualquer espectáculo musical circense, com a particularidade do contra-baixo marcar um ritmo distinto do percussionista, da pauta do piano estar fotocopiada de forma espelhada, do violino ser tocado pelo homem do acordeão que não o trouxe porque tinha falta de ar, e, da nota do vocalista estar escrita em anagliptografia, vulgo ‘braille’.
Com efeito, assistimos a um qualquer ambiente enigmático que Dan Brown certamente se envergonha de não ter conseguido criar no seu best-seller “Código Da Vinci”. Não diria só enigmático como frágil também, dado que deixa transparecer uma falta e hesitante necessidade de afirmação pessoal que os Zig ou os Zag exercem tímida ou escancaradamente sobre os seus pares, numa clara revelação de amor-ódio que aliás existem em todos os casamentos. «Em toda a casa entra o sol», diz-se.


2. Manter ou suspender o Matrimónio? As dúvidas, as incertezas, os interesses e as sondagens deixaram os zig e os zag numa encruzilhada labiríntica. Que percurso fazer? Cada um que exploram só lhes revela a colheita do que semearam durante quatro meses, após dois anos de submeter as sementes a tratamento químico desapropriado. Talvez separados consigam ter um final mais feliz? Mas como é que conseguem chegar à felicidade se só juntos é que a conseguem garantir para ambos. Até são amigos. Nunca se deram mal. Até os slogans da campanha autárquica de Lisboa eram do mesmo estilo e parece que bem articulados.
Se o casamento pudesse ter uma espécie de suspensão sem prejudicar a aliança. Era porreiro. Do tipo ‘espera aí que vou ali mictar fora do calhandro volto já’. Alguém que visse a infidelidade até era capaz de aceitá-la, julgar extinta a união de facto, e logo que possível, lá estavam novamente num ambiente de apaixonados ósculos.


3. À espera do sim do ‘bode expiatório’. A história podia até ser bonita. Do tipo: ‘e viveram felizes para sempre’. Mas não pode ter qualquer espécie de encanto ou beleza em virtude dos seus personagens se terem batido uns aos outros: ministros-zag contra ministros-zig; correligionários-zag contra correligionários-zig; congressos e reuniões magnas zag em que apelidaram os zig de maus da fita, encontrando neles o verdadeiro ‘bode expiatório’.
Repetidamente exerceram essa animosidade sobre os zig, para depois se renderam à sua existência e lhes pedirem ‘a mão em casamento’. Perante as negações de circunstância e, talvez, uma ou outra sondagem, lá vão os zag dizendo que querem unir-se com alguém, o que não quer dizer que seja com os zig. Bem. Dizem isto à segunda-feira, antes do almoço, depois do almoço dizem que os zig até são uma hipótese. Na terça-feira essa hipótese nem se coloca, na quarta-feira, é cedo para falar, na quinta-feira, isso não importa, na sexta-feira, não há dúvidas. No sábado almoçam, à noite vão à discoteca, o domingo é para a ressaca e o ‘bode expiatório’ ainda não berrou.


4. A mentira suprema. Primeiramente, os Zag não queriam os zig, depois já queriam, depois já eram os Zig que preferiam estar sós, depois já não sabiam se queriam, depois já sabiam o que queriam, mas tinham receio de o dizer, criando um clima de intriguismo enigmático, o vulgo 'tabu'.
Mas dizer o quê? Se vão juntos ou separados? Se fazem coligação pré ou pós-eleitoral? De que interessa isso. Que ganham em só se coligar depois? Conquistar mais votos que não conseguiriam juntos pois fazem uma combinação explosiva, e, por isso um ou outro cidadão não queira votar neles coligados? Portanto, o que revelará o tabu que se instalou é uma mentira declarada. A maior das mentiras.
Valerá a pena dizer que não estão juntos, quando afinal estão? Quem pensam enganar? Os zag que vêem nos zig o único problema do descrédito da 'união de facto'? Ou os zig que não gostaram de ser os bodes expiatórios nos congressos dos zag, quando os ministros-zag é que fizeram toda a porcaria?


Tenhamos cuidado. E decência. Pois os cidadãos apesar de serem acusados de ter «a memória curta», não devem ser gozados. Sobretudo, dessa forma. Não creio que vacilem neste momento, aliás estou convencido que vão aproveitar as eleições de Fevereiro para ratificar o voto contra a coligação que já imprimiram nos boletins das europeias e das regionais dos Açores e da Madeira. E dizer 'NÃO' a esta ‘união de facto’.
Não creio que haja algarvio que vote em zig ou zag. Algarvio que vote nestes partidos coligados ou neles ‘separados-formalmente-mas-unidos-psicologicamente-para-mais-tarde-casar-quando-ninguém-poder-rejeitar’ ou não esteve por cá, ou é adepto do sado-masoquismo, ou é ‘boy’ ou ‘kid’ que tem benefício directo da manutenção desta ‘união de facto’ em detrimento do bem-estar da população em geral.


Bem, isto são cá coisas minhas, mas que penso nelas é verdade.
Penso, blog existo!
Estarei certo?


Victor Santos
vics@sapo.pt


P.S.: onde se lê «cüligação» deve-se ler «coligação».

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Segunda-feira, 13 de Dezembro de 2004

Atrás de Pedro, Paulo estava!

Talvez imbuído da ‘Política do Tabu’, Paulo escondeu-se por detrás de Pedro quando este – contrariando a declaração de tréguas ao Presidente da República proferida, dois dias antes, pelo representante da coligação, Vítor Cruz – comunicou que o Governo vai apresentar pedido de demissão conforme decisão tomada no Conselho de Ministros Extraordinário.


1. Por que é que se escondeu Paulo? De facto, por que é que o líder de um dos partidos da coligação não ladeou o outro, aquando da aludida comunicação? Mais, por que é que Paulo Portas não só não ficou ao lado de Pedro Santana Lopes, como procurou o lugar em que podia ficar mais escondido? Porquê? Para quê?
Literalmente atrás do líder, numa posição em que só se via, por parcos momentos, a tímida franja que almeja cabeleireiro há já umas boas semanas, Paulo Portas, parecia estar a caricaturar o omnipresente ‘Emplastro’, isto para manter a elevação do comentário e não entrar numa abordagem assente em trocadilhos e vocábulos menos próprios e um tanto ou quanto jocosos que também já ouvi e vi associados às posições físicas que Pedro e Paulo tomaram na referida comunicação, os quais me escuso, por isso, a referir aqui.
Não se compreende que Paulo Portas tenha procurado um local menos visível quando, na sequência daquela comunicação, pouco tempo depois, também falou ao país e reforçou as ideias apresentadas por Pedro Santana Lopes. O conteúdo não foi, certamente, a razão. Mas terá sido a estratégia?
Protocolarmente, naquela ‘cerimónia’, adoptando-se o modelo de todos os ministros ficarem numa linha continua e ao mesmo nível, nenhum deles se poria atrás do Primeiro-Ministro. À direita do Chefe de Governo ficaria o elemento que o substitui nas ausências e impedimentos (o número dois), à esquerda o número três, novamente à direita o número quatro, e assim sucessivamente, no pleno respeito da ordem que consta da Lei Orgânica do XVI Governo. Ou seja, Pedro Santana Lopes devia ter ao seu lado direito Álvaro Barreto e à sua esquerda Paulo Portas, mesmo que a linha dos ministros estivesse um pouco mais recuada que o palanque em que o Primeiro Ministro falou.
Mas continuo a achar que talvez tenha sido estratégia, num intuito de protagonizar o ‘tabu’, de esconder a verdade total, de dilatoriamente ser vencedor. A menos que a posição de Paulo tenha servido apenas para fazer caretas, figas ou soltar umas lágrimas.


2. Por que é que se demitiu o Governo? Pura birra? Capricho? Súbita percepção da realidade? Para cumprir com o guião e com o ritmo dos episódios? Por necessidade de alívio?
De facto, qualquer das opções referidas são possíveis. Portanto, fica a dúvida no ar. Todavia, não se pode deixar de comentar a decisão lamentando que a mesma preconize um abandono das responsabilidades, uma fuga. Por outro lado, só o estado demissionário ou de ‘Governo de Gestão’ é que permite começar de imediato a fazer campanha. É preciso é que, bem assim, não se confundam os cenários, os momentos e os públicos-alvo, nem se ponha o Governo e o Estado ao serviço de quaisquer interesses politíco-partidários.
Outro comentário, mais mordaz, merece o momento. Aliás, em virtude dos sucessivos episódios que, dia após dia, são propensos à destruição da dignidade das instituições e do Estado e do Governo e que deixam envergonhados os argumentistas das novelas mexicanas que não são capazes de proporcionar tão majestosa diarreia ou avalanche de situações e acções inéditas, insólitas e ridículas, não se podendo porém considerá-las de uma novela-comédia, porque se esgota a graça quando o objecto da intervenção destes personagens somos nós. No entanto, não se pode deixar de fazer esse comentário, até para encontrar algo que, apesar do actual quadro, nos permita sorrir, embora que timidamente: É cruel ser contra-aborto e pró-eutanásia. Foram estes personagens que teimaram em nascer, mesmo que permaturamente e foram eles que contribuiram ou motivaram o ‘desligar da incubadora’.
Escuso-me também a comentar a afirmação de Pedro Santana Lopes em que alude que «é o Governo que decide os seus próprios poderes». Não o faço, pois dada a adversidade à legalidade e a aproximação a caudilho, isso sim, caudilho, certamente os comentários não manteriam a elevação que se preconiza nesta crítica, o que é dificultoso dada a 'asneirada em catadupla' que todos os dias cai sobre nós.


3. Por que é que Sampaio continua a ser o principal alvo da Coligação? É claro, como a água, que decorre da estratégia definida pelos partidos da coligação. A derradeira hipótese de aumentar o número de votos, e tentar não sair absolutamente derrotados no processo eleitoral de Fevereiro, reside na exploração do conceito de ‘vitimização’, fazendo passar a tese de que Sampaio puxou do cartão do PS para presentear os seus correligionários que entretanto se reorganizaram. Até parece que o Presidente não foi a única pessoa que amparou e embalou a prematura criança.
Só o discurso eleitoralista de Pedro e Paulo é que os pode recolocar bem posicionados na corrida, no entanto, no claro combate que se propõem despolotar contra o inquilino do Palácio de Belém não só não é justo como espelha bem que esses senhores não conseguiram garantir a estabilidade no XVI Governo e se tiverem a ínfima hipótese de serem governo novamente vão ter, uma vez mais, um permanente atrito com o Presidente, mesmo que consigam diluir o ódio que agora lhes ferve. É que apesar destes protagonistas da actual maioria manifestarem ter memória de peixe – (mais ou menos quatro segundos), e só assim se percebe que agora se diga ‘alhos’ e daqui a pouco se diga ‘bogalhos’ – o Presidente é homem de boa memória e os portugueses também, em especial quando lhes arde na pele.


Bem, isto são cá coisas minhas, mas que penso nelas é verdade.
Penso, blog existo!
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Victor Santos
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cogitado por vics às 08:07
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Sábado, 11 de Dezembro de 2004

O Fim da est(h)abilidade de Pedro & Paulo!

O Presidente decidiu, falou, é preciso agora que o povo vá em busca da estabilidade social, política e económica, e, esvazie e extinga as habilidades de circunstância.


 1. O anúncio do fim. O Presidente da República falou ontem aos portugueses, após as diligências exigidas pela lei fundamental, escusando-se a enumerar as razões que motivaram a sua decisão. No entanto, o seu discurso foi bastante incisivo e envolto numa dura crítica à acção (des)governativa da dupla Pedro & Paulo.
As vozes que se fizeram ouvir, em representação dos partidos do poder, ou seja, os porta-vozes da ‘virtual coligação de interesses pessoais’, alegaram que o discurso do Presidente não foi esclarecedor e que continuam a achar que não haviam razões para disparar a ‘bomba atómica’ sobre o parlamento.


De todo. Não concordo. Acho que o Dr. Jorge Sampaio falou aos portugueses imbuído do sentimento do povo a que preside. Atente-se que a decisão que tomou mereceu parecer favorável (1) do Conselho de Estado, congratulação de toda a oposição – com e sem acento parlamentar – e despoletou o suspiro de alívio das portuguesas e dos portugueses.


2. Que razões fundamentaram o Presidente? Diz a oposição não perceber, não compreender o porquê da decisão, não encontrando quaisquer causas para tal e reportando-se sempre ao facto de terem uma ‘maioria estável’.
O que eu não percebo são as atitudes do PPD/PSD e do CDS/PP após a tomada de decisão do Presidente. Como eu, talvez milhões de meus concidadãos, estou certo. Também creio que outros não pensarão assim, nomeadamente aqueles que percorrem cegamente carreiros de carneiros discípulos de qualquer seguidismo partidário ofuscante e acéfalo. Mas desses, felizmente, há cada vez menos. Por isso, o Presidente não precisou enumerar as razões. Elas são do censo comum.


Será que são precisas mais razões do que as que a coligação ‘saco de gatos’ nos ofereceu? O líder de um dos partidos que suporta a maioria surpreende-se com a pasta que lhe é dada no acto de tomada de posse; uma senhora que é apregoada, com pompa e circunstância, por esse mesmo líder, para uma secretaria de estado e, depois, atrasando o acto de tomada de posse, fica adstrita a outro ministério e com outra tutela; um barco de ‘propaganda de sociedades livres’ é tratado como inimigo que belicamente pretendia entrar no país; um 'braço-de-ferro' entre ministros (do mesmo governo mas de partidos diferentes), com desmentidos, desautorizações e flechas verbais; uma lista de professores que teimou em não sair, e sempre que saiu, saiu mal; um ministro que apontou o dedo às vozes críticas, como que de um oficial da PIDE se tratasse, recordando perfeitamente o período da censura; um intuito estratégico para controlar a comunicação social, por fora ou por dentro; um ministro que recebe uma pasta distinta da que lhe havia sido prometida e que rompe com a amizade e compromisso que o vinculava ao governo e a Pedro Santana Lopes, acusando este de faltar à verdade e à lealdade; a crítica que a sociedade em geral e as instituições, incluindo o Presidente da República, fizeram ao Orçamento de Estado para 2005; entre tantos e tantos outros incidentes que marcaram cada dia de (des)governação nestes quatro meses difíceis para os portugueses que se viram sufocados pela intervenção díspar e rude do Governo da República.


Serão poucas razões? Por exemplo, o Algarve, que mereceu tanta afronta, tanta falta de clemência, tanta asneira que certamente colocará este governo na história como um dos principais inimigos, precisará de mais razões?
Creio que não.


3. Estabilidade ou Est(h)abilidade? Estou convencido que, admitindo que não há entre os correligionários dos partidos da coligação um fanatismo tal que lhes provoque cegueira ou falta de sensibilidade ou de percepção, só posso aceitar que quando se referem a ‘estabilidade’ querem mesmo é dizer ‘esta habilidade’, portanto, uma questão de pronúncia. É que, não se pode considerar que a coligação goza de estabilidade, quando um dos partidos é o ‘saco de boxe’ do outro, nomeadamente nos seus congressos – recorde-se que, quer em Oliveira de Azeméis, quer em Barcelos, o CDS/PP foi objecto da bordoeira e ‘bode expiatório’ –; ou, por outro lado, quando há atritos entre ministros oriundos ou designados por partidos diferentes.
Será que governa em estabilidade um Governo que, fora nomeado para tomar o comboio a meio do percurso e continuar a comandá-lo até ao fim da linha, e se afirma como um bebé prematuro a requerer incubadora? Mas afinal é um governo de continuidade ou é um novo governo?
Será que goza de estabilidade um governo do tipo ‘bebé-prematuro’ que é agredido pelos irmãos mais velhos? Quais? Os do governo antecessor? Os fundadores dos partidos coligados? O homem que ambos os partidos querem que seja o candidato da Direita à Presidência da República?


Que ‘estabilidade’ é essa que é resistente ao desaire das eleições regionais em que a coligação é claramente perdedora? É claro, absolutamente claro, que não há estabilidade na coligação nem na sua forma de governação. Presumo sim que haja uma habilidade de mentir e de agir, envolta num qualquer disfarce subtil, que se impregna nas entranhas do país sufocando-o com a sua intervenção devastadora. Uma espécie de vírus Ébola, que apesar de actuar em sentido contrário, provoca o mesmo efeito.


Bem, isto são cá coisas minhas, mas que penso nelas é verdade.
Penso, blog existo!
Estarei certo?


Victor Santos
vics@sapo.pt


(1) Segundo o semanário Expresso presume-se que dos 18 conselheiros que integram o CE, onze tenham votado a favor. 

cogitado por vics às 07:21
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Domingo, 5 de Dezembro de 2004

O ‘sado-masoquismo’ de uma criança prematura

São intrínsecos os problemas de uma criança metida numa incubadora e não causados pelas bofetadas e pontapés que lhe dão aquando das visitas ou pelo desligar da máquina que alguém, por bem, fez.


1. A criança na incubadora - Se a criança nasce prematura ou com qualquer deficiência e tem que ir para a incubadora, se o responsável pela reabilitação sai, é claro que a criança vacila.
Uma coisa é os familiares mais velhos baterem na criança alojada na incubadora e outra coisa é o garante da reabilitação bater com a porta e não querer saber mais nem da criança, nem da sua juventude ou desporto que ela necessite e muito menos da sua reabilitação. (1)


2. A responsabilidade da instabilidade - Ouvi na rádio e li em jornais de ontem que o ainda Primeiro-Ministro não percebe o motivo da decisão presidencial e acusa o Dr. Jorge Sampaio da instabilidade política criada. Efectivamente, é uma hipótese. Não da interpretação da conjuntura, mas sim do principal responsável – como disse o Eng.º Sócrates – poder capitalizar créditos em detrimento da degradação da imagem do Presidente da República.
Achei insuficiente a primeira declaração do líder do PS, onde procurou apenas apontar o dedo ao único responsável, declinando as muitas razões e justificações que basilaram a decisão do Presidente. Mas percebo-o. Procurou mostrar a sua concordância com a decisão de dissolução sem explorar as questões que a motivaram, porque, aliás, são do conhecimento geral, mas também porque a fundamentação compete ao Presidente apresentá-la.


3. Os Generais e os oficiais - Mas de quem será a culpa? Obviamente que a culpa é de todo o Governo, mas em especial de quem coordena a equipa. Foram quatro meses de acções, atitudes, decisões, sem precedente e de produção avulsa, insustentável e propensas a um futuro cada vez pior.
Nos partidos há sempre líderes natos e em seu redor criam-se grupos ou lobbies – vulgo ‘facções’ –, como se fossem ‘generais’ com as suas tropas. Ao ‘sumo líder’ compete agilizar e propiciar a convergência em torno de si próprio, cedendo, conquistando, negociando.
Nos momentos difíceis para o respectivo partido todos convergem numa espécie de obrigação ‘familiar’ ou na procura de conseguir manter ou alcançar cadeiras suficientes.
Às vezes há cedências que os líderes fazem que podem ter desenlaces menos bons. Vejamos: como é que o Dr. Pedro Santana Lopes chega ao cargo de primeiro vice-presidente do Dr. José Manuel Durão Barroso? Eu sei. Era a forma de o manter calado e quieto e debaixo de olho. E o que é que isso deu? Um grande problema: vitimou uma sucessão dinástica no partido e no Governo.
É tremenda e deplorável a existência de uma sucessão dinástica, sobretudo não-sufragada, no regime dito Democrático. E mais ignóbil ainda quando o sucessor cria desarmonia nos seus correligionários e alguns dos generais depõem as armas, assistindo muito críticos à tomada de poder do novo marechal e à partilha desse poder com o pseudo-companheiro, que aliás é o grande adversário nas reuniões magnas internas.
Com efeito, assim ia o partido do Governo e o Governo do país – um autêntico saco de gatos. Ou, como disse o Primeiro-Ministro, uma criança incapacitada residente na incubadora. Não sei se foi bem com estas palavras, mas da incubadora falou e de uma criança nela metida, também, e como só vão para lá os incapacitados, concluo que tenha sido esta a ideia. 
Mas, mais grave do que os oficiais de outros generais não se identificarem com o marechal de recrutamento dinástico, é quando um ou outro oficial da sua própria facção bate com a porta, pondo termo aos seus trabalhos ao serviço e sob a ordem do líder.
Mais grave ainda, aliás gravoso, é quando esse oficial era mais do que um correligionário, era um amigo de longa data. E pelos amigos faz-se tudo. E só se abandona a guerra, travada ao lado dos amigos, se a amizade cessar. E a amizade só cessa quando há razões muito grandes e fortes.


4. De quem é a culpa? - Perante isto, de quem será a culpa? Não sei. Mas do presidente da República é que ela não é. Aliás ele foi implacável pondo termo ao rumo que se vinha seguindo, e proclamou - volto a não saber bem se foram estas as palavras, mas a ideia não foi outra: «Deponham as armas, voltem para casa que a nossa guerra é outra!»


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Victor Santos
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(1). Henrique Chaves, foi indigitado Ministro da Juventude, Desporto e Reabilitação

cogitado por vics às 12:21
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Quinta-feira, 2 de Dezembro de 2004

Portugal Democrático

Afinal, ainda é verdade que «o povo é quem mais ordena» (conforme cantou o Zeca), e que o sistema político português, efectivamente, atribui aos cidadãos o poder político.


O Presidente da República decidiu devolver aos portugueses o direito de escolher os seus novos representantes no Parlamento e, consequentemente, o novo Governo. É certo que nas eleições legislativas não se elege o Primeiro-Ministro nem o elenco ministerial, no entanto ao eleger os deputados à Assembleia da República os cidadãos escolhem o partido que deverá apresentar esses protagonistas.


Habitualmente, o líder do partido é o nome proposto por este para formar Governo. Os portugueses ao votarem num partido fazem-no sabendo que o seu voto é duplo: a eleição dos deputados para o Parlamento e a escolha do líder do partido para o cargo de Primeiro-Ministro. Com isto, uma coisa sabemos: ao contrário do que aconteceu no XVI, o XVII Governo da República vai ter o Primeiro-ministro que os portugueses preferem e não um qualquer militante que um diminuto colégio de correlegionários pretenda escolher.


A Democracia foi reimplantada em Portugal. Isto é, os portugueses podem, de novo, gozar do direito constituicional conferido pelo artigo 10.º da lei fundamental - «o povo exerce o poder político universal, igual, directo, secreto e periódico (...)».


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Victor Santos
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cogitado por vics às 07:05
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